Edilmar Norões |
Jota Alcides
Certa vez, num evento social em Brasília, tive a chance de
perguntar ao jornalista e acadêmico Carlos Castelo Branco, o famoso Castelinho
do Jornal do Brasil, o que era essencial para ser um bom cronista político. Era
tão grande a importância dele que diziam na época: “O Congresso trabalha muito
mais na coluna do Castelo do que no próprio Congresso”. Respondeu-me,
aristotelicamente, curto e pleno: "Ser um animal político”. Enquanto animal,
uma raposa felpuda, cheia de sagacidade e sabedoria. Foi assim que Carlos
Castelo Branco tornou-se o patrono dos colunistas políticos brasileiros, o
maior de todos nos últimos 50 anos. Ao lado dele, outros mestres: Carlos Chagas,
Vilas-Bôas Corrêa e Jânio de Freitas. Há ainda os notáveis da atualidade:
Clovis Rossi, Jozias de Souza, Ilimar Franco, Merval Pereira, Ricardo Noblat,
Eliane Cantanhêde, Dora Kramer. São nomes de prestígio nacional. Eles tem em
comum a filosofia jornalística do saudoso Luiz Beltrão, o primeiro doutor em
comunicação no Brasil, ex-professor da Universidade Católica de Pernambuco e do
Centro Universitário de Brasília-Uniceub, maior universidade privada do
Centro-Oeste brasileiro. Beltrão centra sua proposta de fundamento ético na
prática noticiosa orientada à valorização humana na sociedade. Segundo ele,
quase como numa balança, o jornalismo precisa se equilibrar em dois valores
ligados intrinsecamente, assim como o direito e o dever: a liberdade e a
responsabilidade, valores inseparáveis.
Mas, há também colunistas políticos
regionais que adotam Beltrão e que seriam igualmente consagrados nacionalmente
se escrevessem em jornais de referência nacional. É o caso de Edilmar Norões,
radilalista, jornalista, advogado e acadêmico, que está completando neste julho
de 2015 exatos 50 anos de colunismo político diário no Nordeste brasileiro Já
tem mais de 18 mil colunas diárias publicadas, um acervo respeitável. É um
animal político, diria Castelinho.“O que dá ao homem um mínimo de unidade
interior é a soma de suas obsessões”, dizia o cronista e dramaturgo Nelson
Rodrigues. Edilmar Noroes é a soma de suas três grandes obsessões: radio,
jornal e televisão. Devotado ao jornalismo desde a mocidade, compreendeu cedo,
como Bismarck, que a política não é uma ciência exata, exigindo flexibilidade e
maleabilidade, e que os políticos não amam nem odeiam. Muito pelo
contrário. Diretor, há muitos anos, da TV Verdes Mares e da Rádio Verdes Mares,
de Fortaleza, além de atuação no jornalismo impresso diário, Edilmar Norões tem
sua trajetória quase toda ligada ao Sistema Verdes Mares, maior grupo de
comunicação do Ceará. Conheço-o desde 1967, dos bons tempos do Radio-Noticias
Verdes Mares com ele, Mardônio Sampaio, Cirênio Cordeiro e Paulino Rocha. Sua
conduta de profissional e de cidadão é irrepreensível. É o maior ícone do
jornalismo político do Ceará Começou sua coluna política em 1965 no jornal
Tribuna do Ceará, mantida desde 1981 no Diário do Nordeste, principal jornal do
Estado, sendo leitura obrigatória de autoridades e personalidades do mundo
político e empresarial do Ceará.
Caririense de origem, Edilmar Norões
projetou-se como multimídia no Ceará e se tornou tão influente que está para o
jornalismo cearense como estão Parsifal Barroso, Virgilio Távora, Paulo
Sarasate, Lúcio Alcântara e Tasso Jereissati para a história política da Terra
da Luz no último meio século. Todos esses grandes líderes passaram ou estão
passando, mas Edilmar permanece iluminando o cenário político cearense com sua
ética e seu profissionalismo: É um jornalista com atitude de servidor público,
que devia ser mas não é a atitude de muitos políticos.“Cada um de nós, sejamos
jornalistas, médicos, engenheiros ou de qualquer outra profissão, deve exercer
sua atividade com responsabilidade, com ética e procurar nunca se desviar, pois
esses desvios é que, na certa, atrapalham e jamais permitirão que o
profissional seja reconhecido pelo seu trabalho. Com responsabilidade, ética e
profissionalismo, a gente chega lá”, sintetiza o cronista político do Diário do
Nordeste, aos 78 anos de idade, decano da crônica política no Ceará.
De
espírito dialogal e conciliador, sua norma de vida profissional é inspirada em
máxima do romancista Gabriel Garcia Márquez: “A ética deve acompanhar sempre o
jornalismo, como o zumbido acompanha o besouro”. Seu legado é o do jornalismo
que extrapola o dever de informar por informar para o dever de informar para
formar buscando estimular as forças criativas da cidadania nas conquistas do
bem comum e no fortalecimento da construção democrática.
Sempre admirado por
sua sobriedade, sua seriedade, sua serenidade, sua cordialidade e sua
afabilidade, Edilmar é adepto do credo do jornalista norte-americano Walter
Williams: ”Ninguém deve escrever como jornalista o que não possa dizer como
cavalheiro”. Mas, pode um comentarista político escrever durante 50 anos,
diariamente, sem ferir alguém? Pode. Prova-o Edilmar Norões. Até a mais dura
verdade, nua e crua, ele consegue suavizar, se necessário, com tratamento
equilibrado, civilizado e adequado, mas sem mascará-la. Parece ter sido formado
em jornalismo pelo Instituto Rio Branco. É um diplomata da notícia.
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