terça-feira, 2 de agosto de 2022

VÉSPERA DE ELEIÇÃO



Wilson Ibiapina

 

A disputa pelo governo do Ceará está acirrada. Os políticos em campanha só faltam  se atracarem nas discussões pelo voto. Os conchavos parecem um saco de gatos. Mas já foi bem pior.

Antônio Pinto Nogueira Accioly

Nada se compara com o que  ocorreu em 1912, quando o tenente coronel Franco Rabelo, com o apoio do presidente do país, marechal Hermes da Fonseca, entrou na corrida pelo governo do  estado. Do outro lado estava Antônio Pinto Nogueira Accioly, tentando se reeleger. Accioly era rejeitado pela população, o que não o impedia de lutar para permanecer roubando, perseguindo adversários, empregando familiares e amigos. O clima estava mais para urubu que para colibri, como dizia Estanislaw Ponte Preta. As mulheres de Fortaleza, que pertenciam a Liga Feminista, resolveram  fazer uma passeata com seus filhos para pedir o  fim dos desmandos promovidos pelo presidente da província, que era como se chamava o governador. Depois de muitos obstáculos, as senhoras conseguiram a autorização e a passeata em homenagem a Franco Rabelo, candidato a presidencia do Ceará no próximo quatriênio foi marcada para a tarde do dia 14 de janeiro, um domingo.  O Sr. Manoel Franco , conduzindo a Bandeira Nacional, abriu o protesto que seguiu da praça dos Mártires pela rua Barão do Rio Branco. A adolescente Odete de Paula Pessoa segurava um estandarte com os dizeres  ”Liga Feminista pro Ceará Livre. Umas duas mil senhoras e senhoritas, todas vestidas de branco. Muitas crianças estavam no desfile que era aclamado por onde passava. Ao término, já na praça do Ferreira, os discursos de encerramento acirraram os ânimos. De repente começa um tiroteio. A cavalaria entra em ação pisoteando crianças, mulheres. Muita gente baleada. Essa reação para dissolver o protesto que estava terminando pacificamente, selou a sorte de Nogueira Accioly. Fortaleza virou praça de guerra. O povo revoltado, durante três dias fez barreiras, destruiu a  praça José de Alencar, saqueou o comércio.

O escritor Hermenegildo Firmeza conta na revista do Instituto do Ceará que um jovem cronista que usava o pseudônio João dos Gatos, escreveu num jornal da cidade que  “um pequeno garoto, de calças curtas, onze anos, um nada, em luta como um homem, surgiu de uma esquina. Sobraçava um rifle, os olhos atentos, atravessou a largura da rua, de gatinhas, como um guerreiro ensinado e perito na audácia. Um velho cético e boêmio travou o seguinte dialogo com o menino:

 -  Onde vais?

-  Para as trincheiras da rua Formosa.

- Que diabo vais fazer, lá não tem formigas para guerreares?...

-  Mas tem couro de cão para espichar...

-  E a mamadeira?

O pequeno cearense levantou o rifle e gritou:

- Levo aqui; o leite é para o Accioly.”

Franco Rabelo foi eleito mas durou pouco no poder. As crises políticas terminaram colocando no Palácio da Luz o interventor  Fernando Setembrino Carvalho, o mesmo  general que comandou o massacre aos beatos de Antônio Conselheiro em Canudos, na Bahia.

Hoje, a ambição pelo poder continua seduzindo os políticos que estão de olho na eleição de outubro. 


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