QUEM É 4417749?
Por Aleluia, Hildeberto.
Esta pergunta foi feita num belo dia de 2006 por dois repórteres do jornal New York Times quando buscaram no site da AOL um relatório publicado que mostrava em detalhes as palavras-chave que entraram no seu mecanismo de busca, digitadas por 657 mil assinantes durante um período de três meses naquele ano. A empresa queria prestar um serviço aos acadêmicos e pesquisadores de buscas com a divulgação dos logs. Para proteger a privacidade dos assinantes, a AOL “anonimizou” os dados cuidadosamente, substituindo os nomes de pessoas por números e cuidando ainda de eliminar todas as outras informações que pudessem levar à identificação dos usuários.
Os repórteres se chamam Michael Barbaro e Tom Zeller Jr. e a história está contada no livro de Nicholas Carr, A GRANDE MUDANÇA, Editora Lansdcap. E com um desfecho surpreendente. Examinaram meticulosamente uma série de palavras-chave digitadas pelo número 4417749 no site de buscas da AOL que iam de cachorro a crianças no Iraque, passando por questões cotidianas de um lar qualquer nos Estados Unidos. Não demorou muito para descobrirem que o número 4417749 pertencia a uma senhora chamada Thelma Arnold, viúva de 62 anos e moradora de uma pequena cidade no interior da Geórgia. No dia 9 de agosto de 2006, a senhora Arnold descobriu sua foto na primeira página do jornal New York Times ilustrando a matéria da dupla provando que não existe anonimato na internet.
A impressão do anonimato na rede é uma suposição que acalentamos quando estamos on-line. Por meio dos sites que visitamos, das palavras e frases digitadas nos sites de buscas revelamos detalhes de todos os nossos interesses, inclusive nossos segredos, nossa saúde, nossa linha política, obsessões e até de nossos crimes. O anonimato na WEB é uma ilusão. Tudo o que fazemos on-line está devidamente armazenado em algum lugar. E lá está o seu diário pessoal. E lá se sabe sua idade, seus gostos e preferências, seus hábitos e tudo o mais que cerca o seu cotidiano. Nenhum de nós tem a exata noção da extensão das revelações dos detalhes de nossas vidas. E que estes dados podem ser garimpados e reconectados a nós mesmos. Como lembra Carr no seu livro “os sistemas de computadores em geral, e a Internet em particular, colocam um poder enorme nas mãos do indivíduo. Mas colocam um poder maior ainda nas mãos de empresas, governos e outras instituições, cujo objetivo é controlar as pessoas”.
Mas o que é para o mal, também é para o bem. É esse caminho que os cientistas estão trilhando na busca para tornar o computador uma máquina pensante e que interaja com nosso cérebro. Pesquisadores da Universidade Washington, em Saint Louis, nos EUA, já relatam que uma mulher com eletrodos sobre a região do cérebro responsável pela fala moveu o cursor na tela do computador apenas ao pensar em certos sons, sem pronunciá-los. Também na Universidade de Brown outras pesquisas já permitem que o cursor seja movido apenas pelo pensamento. E na Universidade do Sul da Califórnia uma equipe de engenheiros e biomédicos já testou com sucesso a confecção de nanotubos de carbono para construir a perfeita interação através da criação de um cérebro sintético para o computador. Eles estão em busca da máquina que pensa.
Há três décadas passadas um escritor científico chamado David Ritchie escreveu uma obra chamada "O Cérebro Binário" onde alertava para um tempo onde nos “plugaríamos à memória de um computador tão facilmente como calçamos sapatos”. Nossa mente seria preenchida pelas informações armazenadas no computador e poderíamos virar especialistas em qualquer assunto instantaneamente. E há quem diga que o cérebro é limitado demais diante das possibilidades da máquina. Nessa trilha, os deficientes visuais já não sofrem limitações para trabalharem em qualquer computador como qualquer pessoa normal. Diversos programas com softwares de leitura impulsionados por comando de voz estão à disposição dos interessados. Desde o software gratuito DOSVOX até os pagos, com preços de cem a dois mil dólares. E cada um é mais sofisticado e eficiente que o outro.
Faz tempo que o Google vem adaptando cada busca ao perfil da pessoa que a faz. Seus executivos já admitem um acerto de 12 por cento nas respostas, e isto é o resultado das pesquisas e aperfeiçoamentos onde os sites de buscas avançam para saírem das respostas baseadas em links para as respostas que são baseadas em algoritmos. O Google vangloria-se de ter a tecnologia de inteligência artificial em suficiente escala para calcular aresposta certa na hora da busca. Isso será o que logo teremos em mãos nesta revolução permanente.
O processo de busca se tornou personalizado. E se não acredita, experimente em casa fazendo um teste. Se você é um ambientalista, por exemplo, faça uma busca e em seguida peça a outra pessoa, um engenheiro de aviação ou médico para a mesma busca, sobre o mesmo assunto. Verá que as respostas serão diferentes mesmo partindo do mesmo número de IP. Isso é possível diante da fórmula de variáveis possibilitada pelo sistema de algoritmo.
O resultado para você é indicado por ele como o mais adequado. Estamos apenas no começo dessa ciência e as controvérsias entre os estudiosos são maiores que as convergências. Uns argumentam que por esse caminho os algoritmos lhe indicam e reforçam a imagem que ele tem de quem você é e assim sendo ele estará lhe orientando a acessar material que apenas lhe reforce sua visão de mundo. Isso poderia nos isolar dos pontos de vista contrários. A imagem que temos da internet é que ela é neutra. Mas os estudos para a evolução do processo de busca vêm mostrando que ela está perdendo a neutralidade na medida em que lhe estreita e direciona suas visões e impressões. Mas não é só na rede. Pelo mesmo processo, as companhias telefônicas estão mais próximas dessa interação visto que ao telefone você, na maioria das vezes, expõe muito mais dados, e com mais precisão, que na rede.
O que sabemos é muito pouco ainda daquilo que está sendo desenvolvido nos laboratórios das universidades e empresas, nos Estados Unidos. Em suas pesquisas, o jornalista americano Nicholas Carr nos dá conta que desde 2005 o Google vem testando o sistema personalizado de buscas, organizando seus resultados de acordo com os de buscas anteriores. Nessa caminhada ele já detém a tecnologia de outro sistema baseado em áudio datiloscopia, um misto de identificação por meio de voz e impressões digitais. E não só ele, a Microsoft, o Yahoo, a Apple e muitas outras empresas também estão nessa corrida. É ela que vai nos levar à máquina que pensa.
Aleluia-Hildeberto é jornalista.
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