domingo, 22 de julho de 2018

BRÁSILIA SUPER RÁDIO FM - DESAPARECE A RÁDIO QUE DIVULGAVA CULTURA

Wilson Ibiapina


O maior sonho do cearense  Mário Garófolo era ter sua própria emissora de rádio. Nascido em Messejana, distrito de  Fortaleza, em 1920, Mário Miguel Nicola Garófalo, era  filho dos italianos José Garófalo e Inês Bisceglia Garófalo. A família morou também na serra de Baturité. 

Ainda muito jovem foi para o Rio, que era para onde todos os brasileiros viajavam em busca de melhores oportunidades. Jornalista profissional desde 1946, foi  repórter do jornal Correio da Noite.  É reconhecido como o criador da rádio-reportagem no Brasil. Fez grandes coberturas  pela rádio Continental, no Rio de Janeiro. Ficou famoso quando transformou Getúlio Vargas em garoto propaganda. Foi assim: em 1951, no dia da posse de Getúlio, todas as emissoras de rádio em cadeia nacional, Garófalo aproveita para saber do presidente o que ela achava da  campanha das Casas Gebara, baixando os preços dos produtos.  
 
Se você entrar na Internet vai ver lá que ele foi diretor-geral do Correio Braziliense e da TV Brasília, de 1960 a 1969. Garófalo transmitiu a inauguração de  Brasília para as emissoras de rádio e televisão dos Diários Associados. Ele vivia o rádio. 

Foi aqui em Brasília, credenciado como repórter no Palácio do Planalto, que se aproximou do presidente Figueiredo e conseguiu a concessão de uma emissora. A Brasília Super Rádio FM recebeu as bençãos do Papa João Paulo II no dia da inauguração.  

Garófalo transmitia, todo fim de semana, a benção papal direto do Vaticano. Muito católico, o velho radialista repetia um costume antigo, colocando no ar todos os dias, às seis da tarde, a Hora do Angelus, ao som da Ave Maria de  Schubert ou de Gounod. Em seguida  apresentava Um piano ao cair da noite, direto do auditório da Caixa, no Conjunto Nacional. 

Com  uma  programação  musical de  alto nível, a emissora era ouvida nos escritórios, consultórios, nas embaixadas.  Quase não tinha anúncios, comerciais, e as músicas, uma depois da outra, serviam de  background para os moradores da cidade.

Lúcia e Mário Garófalo
Durante a semana, só música orquestrada. Sábado e domingo abria espaço para músicas cantadas pelos melhores interpretes do cancioneiro nacional. Tinha programa até em esperanto. Tudo no capricho.  Os amigos apresentavam programas, faziam locução. A base era ele e a mulher, a jornalista Lúcia Garofalo. 

Eu estava saindo da UTI do hospital Santa Lucia, em 2004, depois de uma cirurgia,  quando Mário Garófolo  passou por mim, carregado em uma maca. Foi a última vez que o vi com vida. Morreu aos 84 anos de falência múltipla dos órgãos. A Lúcia, sua mulher  ainda carregou a rádio por algum tempo. Só na hora da Voz  do Brasil a rádio  era igual as outras, dizia um de seus slogans. Lúcia morreu de câncer em 2017 aos 72 anos. O casal não teve filhos. Não teve quem desse continuidade ao projeto que encantou Brasília. A jornalista Daniela Pinheiro escreveu na revista Piauí que a  " emissora era  tão familiar aos brasilienses quanto rotatórias em forma de tesourinhas, CPIs e superquadras sem esquina."

A diferença era a música. Resistia  firme à investida do rock, sertanejo, baladas românticas, axé e funk. Lembra a repórter que ali  só se ouvia boleros, swings, tangos, chorinhos, ópera, jazz, músicas orquestradas, clássicas e temas de cinema, entremeados com notícias nacionais e boletins exclusivos de emissoras estrangeiras." 

O brasiliense toma um susto, hoje, quanto sintoniza o rádio  em 89, 9 MHz. tem uma outra emissora lá com uma  programação  estranha, de músicas de baixa qualidade, uma seleção de terceira categoria que só serve para confirmar que a Brasília Super Rádio Brasília morreu com os seus fundadores. Só existe hoje na nossa memória.

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