domingo, 15 de julho de 2018

HISTÓRIAS CEARENSES – OS CAVALCANTE E A SOLIDARIEDADE


Wilson Ibiapina


Dia desses fui almoçar no restaurante Ki-Filé e me lembrei de um de seus fundadores que faleceu em maio de 2018, o cearense Raimundo Nonato Cavalcante. Ele foi um dos cozinheiros pioneiros de Brasília.

O pioneiro Raimundo Nonato Cavalcante
Antes de ter seu próprio negócio, Raimundo chegou a trabalhar como servente de pedreiro e em um restaurante de comida italiana com o irmão, Anastácio Cavalcante Vasconcelos, que depois foi apelidado de Somoza, alusão ao ditador da Nicaragua.

Os dois irmãos trabalharam na cozinha do restaurante  Romanina, que ficava na 303 Sul e pertencia a dona Nanci, tia da jornalista Célia De Nadai, que me disse lembrar, como se fosse hoje, da torta de frango que ele fazia. O "Chicken pie"  era o prato preferido do dr. Ulisses Guimarães, um dos ilustres frequentadores da casa.

Quando inauguraram o restaurante deles, na Asa Norte, frequentado por  estudantes da UnB, professores, jornalistas, servidores púbicos, políticos e boemios, ficaram famosos pelos pratos que o Raimundo preparava. Chamaram  muito a atenção dos clientes os temperos e os pratos regionais como a feijoada carioca, o carneiro cearense, a rabada e dobradinha paulista. O  carro chefe  continua sendo o saboroso filé-mignon que vem à cavalo e deu nome à casa: Ki-Filé. Hoje, o restaurante é comandado pelo Roberto, filho de Anastácio que trabalha com primos e colaboradores.

Raimundo pouco antes de morrer, contou-me a viagem sentimental que fizera  à Serra da Ibiapaba, no Ceará. Percorreu o mesmo trajeto que fez em 1958 com os pais e os irmãos. Fugindo da seca braba que açoitou o Ceará naquele ano, foram parar num sitio, em Ibiapina. O proprietário recebeu os  Cavalcante com todas as honras, como se fossem velhos amigos. Não faltou água limpa, comida e rede cheirosa e limpa para acariciar o corpo nas noites frias da Serra Grande. Raimundo ainda teve tempo de agradecer a hospitalidade  tão generosa que salvou sua família da fome e da sede. O escritor tcheco Franz Kafka dizia que a solidariedade é o sentimento que melhor expressa o respeito pela dignidade humana.

Muita gente não acredita mais na solidariedade desinteressada, como antigamente. As pessoas querem sempre algo em troca do menor favor. Mas esses egoístas ainda não dominam o mundo. Ainda existem gestos humanitários que separam o ser humano dos irracionais.

Um outro exemplo de solidariedade, também, vem do Ceará. Alunos da Escola de Ensino Profissionalizante Balbina Viana Arrais, de Brejo Santo, são protagonistas de um ato que emocionou a cidade. Ao descobrirem que o professor de artes, Bruno Rafael, de 28 anos, estava passando necessidade financeira, resolveram ajudar. O professor que é pernambucano, estava há dois meses sem receber e já se preparava pra ir embora para o Crato. Seus alunos rifaram uma  caixa de chocolate e conseguiram  R$ 400,00. O dinheiro foi entregue na sala de aula, o professor chorou de emoção diante do gesto bonito. Feia mesmo é a falta de  vergonha dos administradores que humilham o professor que trabalha sem receber. A solidariedade dos jovens adolescentes não deixa  de ser um vexame para quem não cumpre suas  obrigações.

Aqui o vídeo que o professor postou nas redes sociais:




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