segunda-feira, 4 de julho de 2011

JULHO EM UBAJARA





Wilson Ibiapina

Como demoravam chegar as férias de julho. A viagem para a casa dos meus avós, em Ubajara, era feita no ônibus do Cajazeira. Saia de manhã cedo de Fortaleza e só chegava à tarde. A estrada sem asfalto e estreita. Cada um levava seu farnel. Frango frito com farinha. Um sabor de infância que o paladar não esquece. O cheirinho ficou impregnado nas narinas para sempre.

A parada em Sobral para o almoço era aproveitada para beber água ou ir ao banheiro. Poucos passageiros almoçavam nos restaurantes. Quando o ônibus passava de Frecheirinha e começava a subir a Serra Grande, parecia que ligavam o ar condicionado. A temperatura amena nos fazia pensar nos amigos e nas brincadeiras que iriamos encontrar em Ubajara.

Em frente a casa do meu avô Pedro Ferreira tinha uma área extensa que, aos domingos, recebia a feira livre. O canto dos carros de bois (ou o gemido?) era o despertador. As cinco da manhã, ainda escuro, eles começavam a chegar dos sítios, trazendo frutas, chapéus de palha e outros produtos de artesanato, farinha, feijão, mandioca, rapadura, alpercatas, lamparinas, potes e panelas de barro tudo que se vende numa feira. Quando a gente saia de casa, por volta das sete, oito horas, já encontrava tudo montado e os feirantes negociando. Os repentistas faziam seus desafios e os poetas de cordel contavam suas histórias em versos.

O serviço de alto falante da Igreja tocava os sucessos do momento. Rapazes e moças dando volta na pracinha da matriz numa paquera inocente que ia acabar à noite no Ubajara Clube. A baixa temperatura deixava todo mundo mais elegante. Quem não tinha agasalho se esquentava com a Cajueiro ou Adorável. Os passeios aos sítios, engenhos de cana-de-açucar, banhos de rio, visita à Gruta ou peladas. O dia não terminava nunca. O mês parecia mais comprido.

Há pouco voltamos a Ubajara com o Rubens Soares, Cunha Jr e a Maria de Lourdes. Fomos convidados para uma festinha no clube. Era a noite da “melhor idade”. Fiquei tentando localizar os homenageados, os rapazes que alegravam as festas quando a gente era garoto, nos anos 50 e 60. Foi quando o Rubens me alertou: “É pra nós”. Foi aí que me toquei. Nós eramos a terceira idade. O tempo já não demora mais como naquelas férias de julho. Passa voando como tudo que é bom.


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