O feriado que comemora a Proclamação da República, este ano, 2015, caiu num domingo. Poucos lembraram
o 15 de
novembro de 1889.
A revista Veja História
trouxe detalhes da data, numa narrativa jornalística dos últimos instantes da
família real no Brasil.
Proclamada a República, o Imperador Dom, Pedro II é obrigado
a embarcar de madrugada com a família no navio Alagoas rumo ao exilio na
Europa.
Princesa Isabel, 43 anos, protestava; "Não sigo sem
meus filhos. Ela e o marido Gastão de Orléans, o conde D'Eu, haviam enviado os
seus três filhos para Petrópolis na sexta feira. Eram 2 horas da madrugada de
domingo passado, dia 17. Reinava uma balbúrdia considerável no salão principal
do velho solar do Paço da Cidade, no Rio de Janeiro. Meia hora antes, o
tenente-coronel João Nepomuceno de Medeiros Mallet havia batido à porta do
palácio e mandado acordar toda a família imperial. Falando em nome do governo
provisório; Mallet queria que o soberano destronado, sua mulher, a imperatriz
Tereza Cristina, sua filha, a princesa Isabel, seu genro, o conde D' Eu, e seus
quatro netos embarcassem para o exílio naquele momento, no meio da madrugada em
que caía um chuvisco frio sobre o Rio de Janeiro. O objetivo declarado dos
republicanos era evitar que, num embarque durante o dia, simpatizantes mais
exaltados do novo regime hostilizassem o monarca e seus familiares. O objetivo
real era o oposto exato: tornar mais difícil que viessem à tona manifestações
de solidariedade a D. Pedro II.
Da lancha, a família teve de ser encaminhada ao cruzador
Parnaíba, onde aguardariam a chegada dos três filhos da princesa e só então
navegariam para a Ilha Grande, para embarcar no Alagoas.
Foi um custo, na noite escura e chuvosa, encontrar o
Parnaíba. Mais difícil ainda foi fazer D. Pedro II passar da lancha para o
cruzador. Com o mar agitado, uma escuridão tenebrosa e uma precária escada
ligando os dois barcos, Mallet e o conde Mota Maia, médico particular do
imperador, tentavam empurrar D. Pedro II da lancha para o Parnaíba. De cima,
alguém lhe dava a mão para puxá-Io, mas o imperador, de 63 anos, fraquejava e
oscilava. Horrorizado, Mallet contemplou a hipótese de D. Pedro II cair no mar
e julgou que seria praticamente impossível salvá-Io. O tenente-coronel contou
depois que se o soberano caísse pularia no mar e só sairia com ele salvo.
Preferia morrer a ser acusado de ter afogado o monarca.
O imperador permaneceu no tombadilho até as 10 horas da
manhã, sentado sob uma lona que fora estendida para protegê-Io do chuvisco, até
que seus três netos chegassem. Ao meio-dia, o Parnaíba começou a movimentar-se
rumo à Ilha Grande. Foi uma viagem lúgubre, com os passageiros pálidos e
soturnos. "Mas o que fizemos para ser tratados como criminosos?",
perguntava a imperatriz Tereza Cristina ao embaixador da Áustria no Brasil,
conde de Weisersheimb, que acompanhou a família real no cruzador para se
despedir. "Não pense muito mal de meu país", afirmou Isabel ao
austríaco. "Eles estão agindo como num acesso de loucura." Meio
alheio aos acontecimentos, o imperador era o único que não demonstrava nenhuma
emoção.
No Alagoas, o início de viagem foi relativamente calmo. D.
Pedro II conversava com José Maria Pessoa, comandante do navio, tentava
reconhecer os pontos da costa e raramente se referia à Proclamação da
República.
Ao passar ao largo da Ilha de Fernando de Noronha, o último
pedaço de terra brasileira avistado pelos passageiros, D. Pedro de Alcântara, o
príncipe do Grão-Pará, de 14 anos, teve uma idéia. "Vamos soltar um
pombo!", proclamou. Todos toparam. O imperador pegou um papel, escreveu
"Saudades do Brasil", todos assinaram embaixo, e a mensagem foi amarrada
num pombo para que ele a levasse até Fernando de Noronha. Esqueceram-se, no
entanto, de que todas as aves, levadas a bordo para serem servidas nas
refeições, tinham suas asas cortadas. O pobre pombo foi impelido por uma rajada
de vento, mas logo caiu no mar, afogando-se com a mensagem "Saudades do
Brasil" ante os olhos consternados dos Orléans e Bragança.
Dom Pedro II escreveu
o soneto
Terra do Brasil
Espavorida agita-se a criança,
De noturnos fantasmas com receio,
Mas se abrigo lhe dá materno seio,
Fecha os doridos olhos e descansa.
Perdida é para mim toda a esperança
De volver ao Brasil; de lá me veio
Um pugilo de terra; e neste creio
Brando será meu sono e sem tardança...
Qual o infante a dormir em peito amigo,
Tristes sombras varrendo da memória,
ó doce Pátria, sonharei contigo!
E entre visões de paz, de luz, de glória,
Sereno aguardarei no meu jazigo
A justiça de Deus na voz da História!
Dom Pedro II
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