João Soares Neto
“O Brasil não é
para principiantes”, frase atribuida a Tom Jobim.
O Brasil tem coisas estranhas, dignas de serem analisadas
pela sociedade psicanalítica nacional. Houve tempo em que muitos carros mostravam
o adesivo: “Brasil, ame-o ou deixe-o». Depois veio a luta pelas diretas e o
país se veste de verde e amarelo. Tancredo vai eleito, por via indireta, e há
verdadeiro carnaval. Aí Tancredo morre e o país se desmancha em lágrimas. Cada
pessoa parecia ter perdido um pai ou um conselheiro.
Surge o presidente Sarney e repete, no discurso de posse,
uma frase de Tancredo: “É proibido gastar”. E começa a gastar. Gasta tanto que
só há uma soluçao: o Piano Cruzado. “Cada brasileiro ou brasileira deverá ser
um fiscal do presidente”, disse e o povo aceitou. Nunca o sistema Telebràs
faturou tanto quanto logo após a decretação do Plano Cruzado. A Sunab e a
Polícia Federal ficaram encarregadas das reclamações e de trotes, fuxicos e
perseguições de pessoas que nao gostavam de outras e, aproveitando a ocasião,
haja denúncias.
Sarney enxuga as lágrimas do povo brasileiro e passa a
ser o nosso novo herói. Todo bom herói que se preza tem o seu fiel escudeiro -
como Zorro e Tonto - e Samey não fugiu à regra, tinha o seu Tonto, ou melhor, o
Dilson Funaro. Menos de um ano se passou e Samey perdeu o seu trono na paixão
coletiva. Depois, o lbope disse ao Samey que o seu caso de amor estava acabando
juntamente com a nossa paciência. Ele resolveu arregaçar as mangas de seu jaquetão
clássico, pentear os bigodes e a cabeleira e costurar o “pacto social», que não
aconteceu.
Após Samey veio o Collor com a
aceitação total da mídia e da maioria dos incautos eleitores que não souberam
ver no seu olhar um indisfarçável desequilíbrio. Deu no que deu. E aí veio o
Itamar com o seu temperamento ciclotímico, amigos de segunda e idéias de
terceira, como ressuscitar o velho fusca. Apesar disso, no final do seu
governo, Ciro Gomes e economistas de peso bolaram o Plano Real do qual se
apropriou o então Ministro da Fazenda, FHC, e dai para a eleiçao foi um
passeio. FHC vai reeleito, a custa de barganhas.
Em meio a procelas e ajustes, o Plano Real se mantém há
21 anos e, o povo feliz, permitiu a aprovaçao da reeleição, deixando para
depois as reformas fiscal, administrativa a previdenciána. Temos tempo. O
brasileiro estava alegre, até frango já come.
Saiu FHC, entrou Lula, o
metalúrgico do ABC, falando a linguagem que a maioria do povo queria ouvir. Os
empresários torceram os narizes. Em seguida, houve aproximação que virou
amizade. Lula vai reeleito, viaja pelo mundo e propaga um Brasil crescente,
resolvido, cheio de orgulho e zera as contas com o FMI.
Elege Dilma Rousseff, oriunda
do Brizolismo, economista, descasada, mineira aclimatada no Rio Grande do Sul e
ex-guerrilheira. Emerge o sonho da mulher descrito, entre outras, por Simone de
Beauvoir, Rosa de Luxemburgo e Bertha Lutz. As mulheres vibram e Dilma vai
eleita. Passam-se quatro anos, o mundo perde o gás econômico, mas, mesmo assim,
Dilma vai reeleita. O país ressurge nitidamente dividido, começa o segundo
mandato e os companheiros de Dilma, empreiteiros e integrantes de partidos
diversos, são chamados à ordem por um juiz com sobrenome parecido com Thomas
Morus, o filósofo da utopia, principia a deslindar a enorme teia que mais
parece um labirinto de Franz Kafka.
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