|Pedro Nava |
João Soares Neto
Gosto de ler biografias. Agora, li “A Solidão
Povoada” uma biografia sobre Pedro Nava, escrita, em 1996, em português, pela
acadêmica francesa Monique Le Moing, para a sua tese de doutoramento.
Pedro Nava,
mineiro de Juiz de Fora, era filho de Diva Mariana Jaguaribe, “moça de
recursos”, e do médico cearense José Nava, membro da Padaria Espiritual,
movimento fortalezense do fim do século 19. Nava nasceu em 1903 e viu seu pai
morrer logo em 1911. A a sua primeira grande perda. Foi criado pela mãe Diva e
pelos tios Alice e Antônio Sales, poeta e também padeiro espiritual.
Formou-se em
medicina em Belo Horizonte e, em seguida, clinicou no oeste paulista. Aos 30
anos voltou ao Rio de Janeiro, onde havia concluído o ensino médio no Colégio
Pedro II. Em 1942 casou-se com Nieta Penido. Com ela conviveu até a sua morte
em 1984. Não tiveram descendentes.
Paralelo à
sua vida como médico - dirigia clínica de reumatologia e era professor da
Faculdade de Medicina no Rio - participava de papos com intelectuais tais como,
os “sabadoyles”, na casa de Plínio Doyle. Da roda faziam parte, entre outros,
Carlos Drummond de Andrade, Afonso Arino de Melo Franco e Joaquim Inojosa.
Porém, Nava só começou a escrever literatura aos 70 anos.
O livro em análise é um trabalho sério de pesquisa,
com a vantagem de ter sido escrito por uma não brasileira, o que pressupõe a
isenção de Monique. Ela já havia - em sua tese de mestrado - dado a lume “O
ciúme na obra de Machado de Assis e de Allain Robbe-Grillet: Dom Casmurro e La
Jalouisie”, orientada pelo professor Silviano Santiago.
Monique
justifica o caminho que tomou na biografia: “Uma polemica agitava então os
meios intelectuais do Rio quanto ao fim de Pedro Nava: suicídio? Assassinato?
Dizia-se que frequentava certos meios homossexuais do Rio de Janeiro e ninguém
acreditava que ele fosse capaz de ter uma vida dupla, que tinha sido objeto de
uma chantagem qualquer e compelido a um gesto de desespero. Meu interesse por seus
escritos, incrementado pelo mistério que de repente envolvia a sua morte, assim
como a recente descoberta dos arquivos, decidiram a orientação do meu
trabalho”.
Ao meu
olhar, bastaria Monique pesquisar a estreita ligação – e correspondência - de
Pedro Nava com Mário de Andrade, nos anos 1920, para dar uma pista de sua
preferência sexual. Foi Pedro Nava o autor das ilustrações do famoso livro
“Macunaíma, um herói sem nenhum caráter”, de Mário de Andrade.
Sobre Mário,
agora foi aclarada e publicada, se bem que de todos sabida, a sua
homossexualidade. Monique, diga-se, foi, igualmente, a tradutora para o francês
do livro de Mário de Andrade, “O Turista Aprendiz”, em que ele tenta
compreender o Brasil, lapidar sua formação, narrar as suas peripécias, tirar
fotografias, o que fez em duas viagens etnográficas ao norte e nordeste do
Brasil, entre 1927 e 1929. Foi entre essas duas viagens que Andrade resolveu
publicar “Macunaíma”, sua obra capital, em 1928.
Em ensaio da
colunista Adriana Küchler, da revista sociocultural paulista “Serafina”, na
Folha-SP, há uma declaração, talvez nova, sobre “Macunaíma”. Carlos Augusto
Kalil, curador da Casa Mário de Andrade, diz que Mário quase copiou a obra “Vom
Roraima zum Orinoco”, do etnólogo alemão Theodor Koch-Grünberg. E tem mais, na
“bricolagem” usa trechos de Couto de Magalhães e até de Capistrano de Abreu.
Vou ficando
por aqui, mas antes quero dizer que “A Solidão Povoada” é sólido em informações
bem trabalhadas por Monique que, inclusive agregou ao texto o nome de todas as
obras publicadas por Nava, incluindo poemas, trabalhos científicos e
literários, memórias, prefácios, discursos, conferências, entrevistas, obras
inéditas, correspondências – ativa e passiva –e, por fim, artigos escritos
sobre médico/escritor, dentre eles, o do cearense Edigar de Alencar que o
refere como “Um líder de inteligência nordestina”, por ele ter raízes cearenses.
Nenhum comentário:
Postar um comentário