Uma das atrações da II Bienal do Livro e da Cultura,
realizada em Brasília, foi a presença dos contadores de histórias infantis.
Lembrei que no Ceará os maiores contadores de histórias infantis estão em
Juazeiro do Norte, no Cariri. É lá que ainda são resgatados os contos e histórias de antigamente.
Agora, sente aí que vou contar porque as histórias populares, inventadas pelo
povo, são da carochinha ou de trancoso.
Até 1920, não
existiam no Brasil editoras. Os livros vendidos aqui eram todos impressos na
Europa, especialmente em Portugal. Eram caros e só uma pequena parte da população brasileira
tinha acesso. O livreiro Pedro da Silva Quaresma, dono da Livraria Quaresma,
descobriu a pólvora. Viu que podia vender livros também para a grande massa da
população. Passou a trazer livros
de cunho popular, em formato reduzido e a um preço acessível. Histórias da Carochinha foi o primeiro
livro infantil publicado no Brasil e acabou incorporando o termo carochinha ao
nosso folclore. Até hoje representa uma velha boazinha e afável que distrai as
crianças contando histórias
inventadas que sempre começam com um “era uma vez...”
Essas histórias
infantis também passaram a ser conhecidas no Brasil como histórias de trancoso.
Tem esse nome não por causa da cidade portuguesa de Trancoso, nem do lugar na
Bahia onde Pedro Álvares Cabral desembarcou em abril de 1500, tomando posse do Brasil em nome de Portugal.
Tudo começou com um dos primeiros contistas da língua portuguesa. Em 1575
Gonçalo Fernandes Trancoso escreveu os Contos & Histórias de Proveito &
Exemplo. O livro, que chegou a ser editado também no Brasil, deu origem a
expressão brasileira para designar a literatura infantil que o povo passa de
boca em boca. Nossos pais cresceram ouvindo essas histórias de trancoso que nos
passaram e que hoje está cada vez mais difícil repassá-las para nossos filhos.
A Internet diz que só existe hoje um único exemplar desse
livro de Trancoso. “Contos & Histórias de Proveito e Exemplo" foi adquirido
pelo historiador e diplomata brasileiro Manuel de Oliveira Lima em 1923. Antes de morrer nos Estados
Unidos, em 1928, ele duou sua biblioteca à Universidade Católica da América, em
Washington.. É lá que está a única cópia da primeira edição do livro de Gonçalo
Fernandes Trancoso. Não parece uma história de trancoso?
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