sexta-feira, 18 de abril de 2014

QUANDO BRASÍLIA ERA MENINA A GLOBO TINHA UM CINEGRAFISTA DO BARULHO


A cidade tinha uns dez anos quando aquele cearense magrinho, desinibido, vindo do Rio, chegou à Globo de Brasília pedindo emprego. Trabalhava como operador de áudio na rádio Nacional e foi contratado para a mesma função na  Globo. Demorou pouco. Virou assistente de cinegrafista e, em pouco tempo, estava filmando. 

Normando Parente, formado na escola da vida, desembarcou na capital falando inglês, língua que foi obrigado  a aprender para ser  garçom em sofisticados  restaurantes cariocas. Vestia-se bem, mas exagerava para chamar a atenção. 

Numa época vestia-se com pano amarrado na cabeça, usava grandes brincos, parecia um pirata. Barbado, com lenço num pescoço, chamou a atenção até de um motorista de taxi em Honolulu, onde teve que pernoitar na viagem para o Japão, onde ia cobrir a visita do presidente Geisel. No taxi do aeroporto para o hotel,  Toninho Drummond, chefe da equipe da Globo, e Geraldo Costa Manso, o repórter, sentaram no banco de trás. Normando  Parente no banco da frente, ao lado do motorista. Já chegando ao hotel, o motorista virou-se  e perguntou: - Ele é artista? Toninho, irreverente: - Só é.

Um dia, o dr. Roberto Marinho liga para pedir ao Toninho pra ir pessoalmente conduzir uma entrevista com o ministro da Saúde, Almeida Machado, no governo Geisel. O cinegrafista escalado é o Normando Parente. Na residência do ministro, num fim de semana, começa a entrevista. O repórter pergunta e, quando o ministro começa a responder, alguma coisa se move atrás da cortina da sala. Pára  tudo. Na terceira tentativa, levantam todos e descobrem atrás da cortina um garoto de uns cinco anos. O Toninho segura o menino no colo com todo carinho e  a entrevista finalmente é feita. Já na redação, todos correm pra ilha de edição, quando o Toninho olha , lá está o menino sapeca. -Meu Deus, trouxeram o neto do ministro!!!

- Não, Toninho, esse aí é o Filipy, filho do Careca.

Normando tinha o apelido de careca, mas era cabeludo até demais. E isso quase lhe causou um problema sério. Um dia, chegando ao Palácio do Planalto, quando passava pelo general Hugo Abreu, este sim, careca, ouviu alguém gritar:
- E aí careca, tudo bem? O general, chefe da  Casa Militar no tempo da ditadura, olhou para os lados e viu que o único careca ali era ele, não gostou da brincadeira, achou um desrespeito. Até convencê-lo que o careca era o cabeludo Normando Parente foi um Deus nos acuda.

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