O golpe militar de 64 está completando meio século. João Goulart estava na China quando Jânio Quadros renunciou em 1961. O vice retornou ao Brasil e teve que encarar um regime parlamentarista. Adotou discurso considerado de esquerda e foi derrubado em 64. Durante o regime militar que durou até 1985, muita coisa aconteceu no país, inclusive essa historinha:
O jornalista Blanchard Girão era deputado estadual de esquerda quando estourou o golpe militar. Foi preso e a mulher, Cleide, entrou em parafuso. Começou a correr atrás de advogados, amigos e autoridades para libertar o marido. O tempo foi passando e ela apelou até para Deus. Começou a rezar pedindo a liberdade do marido. Demorou tanto a prisão que um dia ela entrou em desespero: “Meu Deus! mande soltar meu marido. Será que você não vai ouvir as minhas preces, Senhor?
Aí ela ouviu o filho de uns 8 anos acalma-la: Mãe, chore não. Deus vai lhe ouvir. Demora mesmo, mãe. O céu é muito alto”
NÃO ERA SUA VEZ
O ex-governador de São Paulo, Adhemar de Barros, aderiu ao golpe de 64 na última hora pensando em tirar proveito. Achava ele, segundo a Veja que está nas bancas, que seria implantado um triunvirato: um general, um ministro do Supremo Tribunal Federal e um civil, que seria ele.
Acreditava que em seis meses, diante de divergências entre os três, ele seria o chefe da nação. Dois anos depois estava cassado. Morreu em 69 de um ataque cardíaco. A revista lembra que, quatro meses depois, dois elementos da Vanguarda Armada Revolucionária roubava um cofre com 2,5 milhões de dólares que estava guardado na casa de uma amante de Adhemar, no Rio. A ação armada foi comandada por Carlos Araújo com o apoio de retaguarda de sua companheira e namorada Dilma Rousseff.
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O NÃO DE VT
Em Fortaleza, véspera do golpe, estudantes conseguem uma audiência com o governador Virgílio Távora, no Palácio da Luz. Queriam permissão para fazer o “enterro” de Lincoln Gordon. Fazendo cara de surpresa, o governador pergunta: - O embaixador americano morreu?"
- Não, governador, será um enterro simbólico.
- Permissão negada. No meu governo só enterramos os mortos.
NÃO DEU PARA RESISTIR
Naquela noite de 31 de março a rádio Dragão do Mar, de Fortaleza, não saiu do ar. Nazareno Albuquerque, Gamaliel Noronha e eu seguramos a programação com entrevistas e notícias que captávamos de emissoras do Rio, São Paulo, Brasília e Porto Alegre, onde estava Leonel Brizola. Já era dia primeiro de abril quando o operador Orlando Braga olha da varanda, no primeiro andar do prédio da rádio, na avenida do Imperador, e vê soldados do Exército desembarcando de caminhões que fechavam o quarteirão. Ele foi lá no estúdio e nos disse: “temos visita”. A rádio foi retirada do ar e alguns de nós detidos. Orlando Braga atende uma última chamada telefônica. Era um assessor do deputado Moisés Pimentel, de Brasília, pedindo para a Dragão entrar em cadeia com a Nacional, onde ele ia fazer um pronunciamento. Diga ao deputado, disse Orlando, que aqui já estamos todos na cadeia.
ÚNICA SAÍDA
Quando o
país lembra o aniversário da ditadura, eu lembro o que aconteceu com Durval Aires, jornalista, poeta,
compositor e amigo dos amigos. Ele era editor chefe de um jornal em Fortaleza
quando foi convidado para visitar Cuba.
Na volta, o golpe militar no Brasil. Durval vai preso, justamente por
ter visitado a ilha de Fidel. Queriam saber de suas ligações com o regime,
quais os planos. A mulher dele, dona Alberice , vai visitá-lo no quartel
militar, onde estava preso. Leva pijama, escova e pasta de dente. Na aflição dessa primeira visita, joga na
sacola a primeira toalha que encontrou no roupeiro. Depois da visita, Durval
vai abrir o pacote. Quase desmaia ao ver lá a toalha com a bandeira de Cuba,
que ganhou em Havana. Foi sua preocupação nas semanas seguidas. Todo dia,
mordia um pedaço da toalha, puxava os fios com os dentes, cuspia no vaso e dava
descarga. Uma verdadeira operação de guerrilha. Fez isso até desmanchar a única
prova material que tinha de sua visita à Ilha.
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