segunda-feira, 22 de junho de 2015

COM CALMA E ELEGÂNCIA

 
Sergio Costa
 
Mudou o superintendente DNOCS. Dizia-se ser homem correto, íntegro, incorruptível. Botava o Eliot Ness (é assim mesmo?) dos intocáveis no chinelo. Lançada licitação de
grande açude público, assessoria de deputado dono de empreiteira, marcou audiência com o Durão. O Deputado era homem educado, de fino trato, jogador de pôquer, pragmático, não dava ponto sem nó. Certa feita, depois de acertar o pagamento de um colégio eleitoral, ouviu do remunerado cabo eleitoral:
 
- Deputado, o povo de Reriutaba tá doido lhe conhecer.
 
- Meu caríssimo prefeito, taquí mais duzentos mil pro povo não me conhecer?
 
Pontualidade britânica, superelegante a bordo de bem talhado terno de linho acetinado S120, foi recebido com a frigidez dos burocratas pelo Durão. A relação prenunciava-
se difícil, mas como costumava dizer o nobre representante do povo, “não existe
instrumento ruim, existe tocador ruim”.
Depois de muitos cafézinhos e mississipes e mississipes de água mineral, a distancia entre o Durão e o Elegante era abissal. O Elegante Deputado falou sobre quase tudo: campeonato cearense de futebol; a posse do Papa João XXIII; a pesca da lagosta; as meninas do cabaré da Margô; o uísque da tardinha no Country Club; a maionese do Lido; O Jornal do Bonaparte Pêmaia... nada interessava ao impassível Durão, que perdido num antártico mutismo observava o Elegante Deputado como estranha criatura chegada de alguma nebulosa perdida na imensidão cósmica.
Depois de quase duas horas de papo furado o Durão, que parecia um autista, falou:
 
- Deputado, não me leva a mal. Tenho muito que fazer. Já estamos aqui há quase duas horas e o senhor ainda não disse a razão da sua visita ao meu gabinete. Deputado, trocando em miúdos...
 
- Doutor, se trocar em miúdo não vai caber no seu bolso...
 
Moral da história: com cuspe e jeito não tem buraco estreito.

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