sexta-feira, 26 de junho de 2015

O CANDANGUÊS QUE ENTRA NA MODA

 

Wilson Ibiapina
 
 
Brasília é um caldeirão cultural em efervescência. Dele começa a surgir um dialeto próprio, mistura resultante do fluxo migratório. Gente de todo o país desembarcou aqui com seus costumes e várias formas de falar.
 
Minha filha, quando pequena, chegou em casa falando “Arre égua, tchê”. Os brasilienses já trocaram o você por tu e uma conversa entre dois jovens fica difícil de ser entendida por quem não é daqui. Tem uma gíria própria. Interessante é que em Ceilândia, uma grande cidade de nordestinos, fala-se diferente de Brasília, onde bicicleta virou camelo, ônibus é baú. Os jovens brasilienses chamam o micro ônibus de zebrinha, quebra mola de lombada. O sinal luminoso, que em São Paulo é semáforo, aqui é Sinal. O radar do Detran que arrecada dinheiro dos motoristas, são os famosos pardais.
As palavras adotadas saem desse caldeirão, onde foram colocadas por cariocas, nordestinos, gaúchos mineiros , goianos e paulistas. Pelejar é brigar, tentar. Pão francês virou pão de sal. O balão da dona Sara, é a rotatória que fica no caminho do aeroporto. As tesourinhas são os retornos.
 
 
As famosas tesourinhas
 
O jornalista Paulo José Cunha, também professor da UnB, me disse que a colega dele, a professora de lingüística Stella Maris Bortoni, pioneira no estudo das mudanças na linguagem no Distrito Federal, conclui que os adultos podem conservar traços, mas os filhos perdem todas as características regionais. Para a professora, autora de livro sobre o falar candango, os diferentes sotaques se ajustam no intuito de facilitar a comunicação. O brasiliense chama a passagem de nível, o pequeno túnel que liga as asas norte e sul por baixo da rodoviária de ”buraco do tatu”.
 
 
Buraco do Tatu
 
 
Pregador de roupas
O pombal da praça dos 3 Poderes, implantado no governo de Jânio Quadros virou, pelo seu formato, o Pregador de Roupas.
 
Também por causa do formato, o anexo do Itamaraty, que na verdade é Palácio dos Arcos, desde quando foi ocupado por Fernando Collor, antes de assumir a presidência, ficou conhecido como Bolo de Noiva. Em entrevista, publicada pelo Correio Brasiliense em 2011, a professora Stella explica que o ar cosmopolita da fala do brasiliense se dá por dois motivos. O primeiro é porque Brasília não aceita ser uma cidade ligada às raízes rurais: “Brasília sempre rejeitou ser capital interiorana. Na época da fundação, a imprensa do Rio dizia que aqui era terra de índio, tinha muita cobra, e Brasília seria uma capital do interior, de caipiras”. O outro fator é o alto poder aquisitivo da população, o que garante a frequência de acesso a viagens dentro do Brasil e ao exterior, onde se convive com diferentes pronúncias”. E o brasiliense vai criando seu próprio jeito de falar...

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