Nira Foster
Éramos três. Jovens jornalistas ainda preocupados com furos,
sair na frente, em ver o que escrevíamos estampado na primeira página. Cada uma
tinha um quarto no apartamento meio república. Quem não era namorado, podia se
aboletar no sofá da sala ou mesmo no carpete, quando mais de um hóspede.
A roda com a participação do sindicalista foi no carpete.
Escutávamos embevecidos - as três e os respectivos -, a opinião dele, pouco
antes elevado à categoria de líder nacional em capa histórica da Revista Isto
É. Nossas perguntas saíam aos borbotões. As certezas eram conferidas uma a uma
com o nosso operário favorito. A animada conversa varou a madrugada.
Enganos são mais permitidos aos jovens. A hipótese é que
eles têm mais chances/tempo de mudar. Com certeza mudamos todas e os nossos
respectivos se foram nas asas de outros amores. O operário chegou ao poder.
Aliás, esse era quase o título de um filme que os mais radicais quase que
exigiam que víssemos. Como estudante também de cinema, tive que ver esse e outros
tantos filmes. Os do neorealismo italiano e do expressionismo alemão faziam
parte do nosso manual de pretendentes a esquerdistas e eram salvo conduto para
as aulas do querido Vladimir Carvalho. Mas, confesso, hoje sem pudor, que dormi
no Fellini 8 ½, sem saber em que escola o filme se encaixava. Tentei uma
segunda vez na fase “madura”. Cochilei bastante.
Nosso líder dormiu no sofá. Cuidadosamente arrumado pela
companheira de república experiente na cobertura do movimento sindical em São
Paulo. E de quem o nosso operário era a “fonte de esquerda”. Fontes de direita
a gente corria longe, embora pela cartilha do velho jornalismo, fôssemos
obrigadas a ter e a ouvir. Que bom que quando mais velho a gente consegue
compreender, à luz da teoria da relatividade, o que é esquerda e direita. E não
perder tempo no Facebook
Ao ouvir essa história, uma amiga antes petista roxa e hoje
nem tanto, comentou que dormir no sofá era subir de status. Pois, ela disse, no
tempo de vacas ainda mais magras nosso herói costumava passar madrugadas,
quando em Brasília, fungando dentro de um fusca de algum companheiro, em
companhias variadas. Pelo tamanho do carro, presumo, uma de cada vez. Eu, nunca
gostei de carros da Volkswagen.
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