segunda-feira, 29 de junho de 2015

O GRANDE LÍDER QUE DORMIU LÁ EM CASA

 
Nira Foster
Éramos três. Jovens jornalistas ainda preocupados com furos, sair na frente, em ver o que escrevíamos estampado na primeira página. Cada uma tinha um quarto no apartamento meio república. Quem não era namorado, podia se aboletar no sofá da sala ou mesmo no carpete, quando mais de um hóspede.
A roda com a participação do sindicalista foi no carpete. Escutávamos embevecidos - as três e os respectivos -, a opinião dele, pouco antes elevado à categoria de líder nacional em capa histórica da Revista Isto É. Nossas perguntas saíam aos borbotões. As certezas eram conferidas uma a uma com o nosso operário favorito. A animada conversa varou a madrugada.
Enganos são mais permitidos aos jovens. A hipótese é que eles têm mais chances/tempo de mudar. Com certeza mudamos todas e os nossos respectivos se foram nas asas de outros amores. O operário chegou ao poder. Aliás, esse era quase o título de um filme que os mais radicais quase que exigiam que víssemos. Como estudante também de cinema, tive que ver esse e outros tantos filmes. Os do neorealismo italiano e do expressionismo alemão faziam parte do nosso manual de pretendentes a esquerdistas e eram salvo conduto para as aulas do querido Vladimir Carvalho. Mas, confesso, hoje sem pudor, que dormi no Fellini 8 ½, sem saber em que escola o filme se encaixava. Tentei uma segunda vez na fase “madura”. Cochilei bastante.
Nosso líder dormiu no sofá. Cuidadosamente arrumado pela companheira de república experiente na cobertura do movimento sindical em São Paulo. E de quem o nosso operário era a “fonte de esquerda”. Fontes de direita a gente corria longe, embora pela cartilha do velho jornalismo, fôssemos obrigadas a ter e a ouvir. Que bom que quando mais velho a gente consegue compreender, à luz da teoria da relatividade, o que é esquerda e direita. E não perder tempo no Facebook
Ao ouvir essa história, uma amiga antes petista roxa e hoje nem tanto, comentou que dormir no sofá era subir de status. Pois, ela disse, no tempo de vacas ainda mais magras nosso herói costumava passar madrugadas, quando em Brasília, fungando dentro de um fusca de algum companheiro, em companhias variadas. Pelo tamanho do carro, presumo, uma de cada vez. Eu, nunca gostei de carros da Volkswagen.

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